Como o franqueador deve se comportar no momento de crise

Artigo: Como o franqueador deve se comportar no momento de crise

Franquias sem ciladas

As medidas preventivas que vêm sendo tomadas em razão da COVID-19, apesar de beneficiarem a saúde da população, estão tendo um impacto significativo na economia brasileira. Uma das frentes que está sofrendo com o fechamento obrigatório dos estabelecimentos não essenciais é a operação franqueada, que depende, na maioria dos casos, da presença do consumidor no seu ponto de venda ou no estabelecimento comercial. 

Assim, é necessário que os franqueadores ajam imediatamente para possibilitar a implementação de uma estratégia coerente para lidar com as possíveis consequências comerciais negativas da COVID-19.

A operação franqueada é o mecanismo de crescimento que suporta mais de 150 mil pequenas empresas e empreendedores no Brasil. O relacionamento entre franqueadores e franqueados é de interdependência, pela qual os franqueadores autorizam o uso de uma marca registrada, fornecem treinamentos, os sistemas e a cadeia de suprimentos de um modelo de negócio já bem-sucedido, e os franqueados, em contrapartida, dispendem capital, tempo e esforço de trabalho na manutenção de um negócio sustentável.

A pandemia de COVID-19 impactou significativamente a comunidade de franquias e causou incerteza e dor econômica. Enquanto os franqueados enfrentam escassez de fluxo de caixa devido à queda nas vendas, os franqueadores deparam-se com a mesma escassez devido à queda do faturamento dos royalties, que são os valores pagos periodicamente pelos franqueados pelo uso dos sistemas e da marca.

Assim, tanto franqueadores como franqueados, dependendo do seu nível de capitalização, enfrentam os mesmos desafios financeiros. Com possíveis reduções e restrições no recebimento de receitas de royalties, os franqueadores são confrontados com desafios financeiros relacionados à manutenção das concessões de franquias e ao fluxo de caixa necessário para apoiar as operações internas que agora, mais do que nunca, permanecem críticas e necessárias para todo o sistema de franquias. A gravidade ou a extensão dessas questões está atrelada, principalmente, à duração da pandemia e ao tempo que levará para os consumidores retornarem ao mercado, além da necessidade evidente de recuperar a saúde econômica dos negócios.

Apesar de não haver uma receita mágica, existem vários passos que podem ser tomados pelos franqueadores para garantir que a sua operação estará preparada para lidar com os possíveis contratempos inerentes à pandemia, quais sejam:

  1. Lembre-se de que isso passará. Por mais desafiadores que sejam esses tempos, é importante que os franqueadores reconheçam que conseguirão superar esta crise e usem este tempo da suspensão de atividades para planejar os seus projetos e estratégias de crescimento;
  2. Concentre-se em ser um bom franqueador – a maneira como os franqueadores lidam com momentos como esse é uma das razões pelas quais muitas pessoas optam por se tornarem franqueados;
  3. Mantenha uma comunicação aberta e ativa com os franqueados e com a Associação Brasileira de Franchising;
  4. Adapte o modelo de negócios da franquia para que seja possível moldar-se à nova realidade imposta pelas medidas de contenção da pandemia. As equipes de liderança devem treinar os franqueados para que possam implementar novas maneiras de captação de clientes. A título de exemplo, uma possível resposta para o fechamento dos estabelecimentos comerciais é a criação de novas campanhas de marketing, ofertas digitais e mensagens nas mídias sociais, bem como a implementação de modelos de e-commerce e delivery;
  5. Desenvolva uma estratégica jurídica focando nos seguintes pontos: (i) avaliação das cláusulas de força maior contidas nos contratos firmados com os franqueados e com os fornecedores para que seja possível identificar como elas serão potencialmente aplicadas à crise atual;  (ii) confirmação de que as políticas e respostas às consultas dos franqueados referentes à COVID-19 são consistentes com os contratos de franquia e com os manuais de operação; (iii) atualização dos manuais de operações para permitir que franqueados e fornecedores modifiquem suas operações para atender às necessidades da crise, e autorizar a aprovação de possíveis fontes de suprimento alternativos; (iv) monitoramento constante da cadeia de suprimentos e planejamento para possíveis interrupções e cancelamentos de suprimentos; e (v) dependendo do setor da franquia, implementação de um plano de resposta às solicitações potencialmente inevitáveis de franqueados para suspender ou adiar o pagamento de royalties;
  6. Desenvolva e comunique aos franqueados os novos procedimentos que deverão ser implementados para manter a segurança do cliente;
  7. Mantenha o foco na história da sua marca e no que você está fazendo para ajudar seus franqueados; e
  8. Deixe o pânico de lado, concentre-se no futuro do seu sistema de franquias, no bem-estar de seus franqueados e clientes. Concentre-se no longo prazo.

O relacionamento interdependente que torna o relacionamento franqueador-franqueado tão valioso é justamente o motivo pelo qual as operações franqueadas tornaram-se vulneráveis a essa crise. Portanto, neste momento, é imprescindível que os franqueadores mostrem uma liderança forte, espalhando positividade e compaixão para preparar os franqueados para o futuro. As operações franqueadas têm sido um setor importante em crises econômicas anteriores. Por esse motivo, os franqueadores devem estabelecer um bom canal de comunicação com os seus franqueados e fornecedores, dinamizando o seu modelo de negócios e desenvolvendo estratégias de reabertura para levar todos ao sucesso.

Fernanda Catão


Advogada da equipe de Proteção de Dados, Direito Digital e Propriedade Intelectual do ASBZ Advogados.


Agência VitalCom

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